Essa é uma pergunta complicada e para o qual existem diferentes respostas, afinal desde o início da humanidade as pessoas olham para o céu, para a natureza, e tentam entender como o mundo funciona. Mas a ciência como entendemos hoje em dia, com o seu conhecido “Método cientifico” (criar hipóteses, fazer testes e buscar provas) surge na Era Moderna durante um período que ficou conhecido como “Revolução Cientifica”. É nessa época que homens como Galileu Galilei, Nicolau Copérnico, Isaac Newton viveram e mudaram a nossa forma de vero universo.
A ciência moderna não teve em um único "lugar de nascimento", foi um longo processo que cobriu toda a Europa. Copérnico era polonês, Galileu era italiano, Newton era inglês, e muitos outros de diferentes nacionalidades participaram dessa grande revolução científica.
A Europa desse período não era um lugar tranquilo, era marcada por guerras, caça as bruxas e epidemias terríveis que matavam milhões de pessoas. Muitos dos pensadores dessa época trabalhavam fora das universidades (e varias vezes em oposição a elas), que na época estavam ainda muito apegadas as ideias antigas.
A emergência da Revolução Científica resultou em duas mudanças fundamentais com a maneira de pensar da Idade Média:
• As mesmas regras para o céu e a Terra: Antes, as pessoas acreditavam que o universo era dividido. As coisas da Terra (uma pedra, uma planta, uma pessoa) eram imperfeitas e seguiam certas leis. Já as dos céus (o Sol, a Lua, os planetas) eram perfeitos, divinos e seguiam outras leis completamente diferentes. Já para o homem moderno, as leis da física são universais, ou seja, uma mesma explicação pode ser dada para as coisas da natureza, as coisas do céu, e as coisas criadas pelo homem.
• Importância do Experimento: O pensador medieval usava a observação do cotidiano junto da lógica para tirar conclusões, ao ver uma pena cair mais devagar do que uma pedra, concluía que objetos mais pesados caem mais rápido. Já o cientista moderno desconfiaria disso, e criaria experimentos para testar suas ideais.
A emergência da ciência moderna na Europa exigiu a superação de múltiplos obstáculos intelectuais, culturais e sociais que moldavam o pensamento da época.
Intelectualmente, foi crucial romper com as ideias de Aristóteles e Ptolomeu, que diziam que:
• A Terra estava parada no centro do universo.
• Os planetas e o Sol giravam ao redor dela em círculos perfeitos.
• Tudo o que não fosse "celeste" era imperfeito e se corrompia.
Essas ideias faziam sentido para todos, e pareciam ser confirmadas inclusive pela bíblia através de passagens como Josué 10:13:
o sol se deteve, e a lua parou, até que o povo se vingou de seus inimigos. Isto não está escrito no livro de Jasher? O sol, pois, se deteve no meio do céu, e não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro.”
Que para eles provava que é o Sol que se movia, e não a terra. Portanto, dizer o contrário era desafiar a palavra de Deus.
Outro desafio até a revolução era a separação entre matemática e física. Antes disso, a matemática era usada apenas na astronomia para prever a posição dos planetas sem buscar as razões, enquanto a física buscava explicar as causas do movimento, mas sem utilizar a matemática
Isso perdurou até que cientista como Isaac Newton mostrassem que a mesma lei física (a gravidade) podia ser usada para explicar o movimento dos planetas e também para calcular sua posição com a matemática, unificando as duas.
No âmbito cultural e social, existia um enorme preconceito contra o trabalho manual. Atividades como metalurgia, arquitetura ou artesanato eram vistas como "sujas" ou "indignas" de um homem culto. O conhecimento "nobre" era o da filosofia, da leitura, da contemplação.
A ciência moderna quebrou com isso, Galileu, não teve vergonha de usar o telescópio, um instrumento mecânico, para investigar os céus. Confiar em um objeto "vulgar" para descobrir as verdades do universo foi um ato de coragem que uniu a saber (o pensamento) com a fazer (a experimentação).
Outro obstáculo era a valorização do "saber secreto", o conhecimento era visto como algo para poucos, uma espécie de segredo para uma elite de sábios. O ditado de origem bíblica, "Não jogue pérolas aos porcos" era usado para exemplificar isso, a ideia era que a difusão da verdade era perigosa e deveria ser restrito a poucos.
Os cientistas modernos por outro lado, insistiam que o conhecimento deveria ser publicado, e que uma descoberta só tinha valor se fosse publicada em livros, discutida em cartas e testada por outras pessoas, rompendo com a visão de um saber exclusivo.
João Henrique - Estudante de Gradação em História pela Universidade Federal de Minas Gerais
Walace Freitas - Estudante de Gradação em História pela Universidade Federal de Minas Gerais
ROSSI, Paolo. O nascimento da ciência moderna na Europa. São Paulo: EDUSC, 2001. p. 09-44.